domingo, 29 de novembro de 2009

Seu Suor É Apenas Minha Saliva

O metal rangia cada vez mais frio e mais pesado.

Aquela imensidão me amedrontava e fazia com que meu sangue fervesse a ponto de evaporar.
Eu tinha medo de me jogar daquele abismo, de me entregar a você.
Quantas asas eu jogaria fora só por uma queda rápida?
Mas na verdade eu tinha medo de te jogar de lá sem suas asas, para dá-las a outra pessoa.

Os metais continuavam se lamentando, me mantendo preso à terra, e a única coisa na qual eu pensava era em como me livrar daquelas correntes, não me importando com as marcas que deixariam em minhas costas. As locomotivas passavam ao meu lado e zombavam de mim, preso à todas aquelas ferragens, assistindo às casas que flutuavam logo acima. A névoa já havia cessado, e aquele Sol nojento tentava argumentar com as nuvens para que lhe dessem passagem, sem muito sucesso.
Quando ela me olhava, eu lhe sorria como se minha vida não beirasse o fim e lhe dizia silenciosamente com os lábios que tudo daria certo. Eu sabia que era mentira, mas a única coisa que poderia salvá-la era minha esperança.
Ela realmente acreditava naquilo, e eu não poderia desiludí-la assim.
Bom, eu já havia lidado com lobos antes, não seria muito mais difícil daquela vez.


Quando o Sol conseguiu ultrapassar as nuvens, brilhou com tanta intensidade e rancor, que em menos de duas horas eu  havia desmaiado. Inconsciente, não percebi a passagem do tempo, e quando me dei conta, o Sol já havia desistido, sobrando só as estrelas solitárias no céu, sem nem uma Lua a lhes acalentar. Não havia mais correntes, não havia mais locomotivas, nem estruturas de ferro, muito menos um ser vivo por perto.
Corri até a prisão desesperado, esperando encontrar pelo menos o corpo dela, mas nem isso os malditos deixaram. Fugiram sem ao menos deixar um sinal, por mínimo que fosse, para que eu pudesse me sentir reconfortado.

Parti logo em busca deles, e no segundo dia de busca, meu medo tomou forma diante de meus olhos ao ver meu nome escrito com sangue no tronco de uma árvore próxima.
No mesmo instante, sua voz em forma de canto invadiu minha alma, dizendo-me para não chorar, pois meus lábios haviam-na dado asas, e que tudo tinha dado certo, pois eu estava livre e ela também, ainda que nossos olhos não pudessem se cruzar mais.

No fim, minhas costas não estavam tão marcadas pela liberdade quanto meu coração.

2 comentários:

Gustavo Santiago disse...

muito bom, gostei. Gosto da forma como descreve tua narrativa e mensagem que queres passar. Parabéns pelas idéias. Gostei do blog por sinal.

Heloísa ♡ disse...

Que lindo esse Vic, curti mesmo *-*