domingo, 19 de julho de 2009

O Último E Mais Sincero Desta Hora

Quando deu por si, estava de pé, debaixo da marquise, com sua mão esquerda a apoiar o resto de seu corpo na pilastra mais próxima. Talvez tenha acordado pela sensação áspera que a pilastra trabalhada dava à mão, ou por ter notado que sua vida vinha sendo um teatro e ele um ator faminto, atuando mais para agradar ao público e não morrer de fome do que pelo prazer ou pela pura paixão. Paixão que poderia confortar-lhe o coração já atrofiado pela falta de uso, de sentimentos e de vida.

Apoiou-se em seus pés, olhou para as marcas vermelhas na mão e então para o pátio à sua frente. Era uma área amplamente aberta, quase vazia e perfeitamente pavimentada, com um jardim de porte médio no centro, com bancos de madeira e árvores altas ao redor, e mais ao fundo o segundo prédio. O sol forte pós-almoço-em-restaurante-executivo iluminava desde a avenida e o viaduto à sua esquerda até o parque à direita. Tudo realmente grandioso.
Como a peça na qual sua vida havia se tornado, a partir do momento em que partiu rumo ao que achava ser ‘A Vida’.

As nuvens brancas e robustas e o sol revezavam sua posição no céu, fazendo o pátio, a avenida, o parque e os bancos mudarem de tonalidade a cada 4 minutos, de cinza-claro para amarelo-radiante para cinza para cinza-claro para amarelo-radiante, caracterizando assim uma tarde perfeita. Uma tarde típica para se sentar em algum banco de madeira em algum jardim verde debaixo de algumas árvores a balançarem com o vento em algum pátio de cimento em alguma megalópole cinzenta em algum planeta em decadência.

Sentou-se então para pensar no ponto em que chegou. Viveu até ali, não por ele, muito menos pelos amigos. Viveu apenas para o resto das pessoas do mundo que nem faziam ideia de que ele existia, do que podia acontecer em sua mente e não se importavam com ele, justamente por não saberem quem é. Em sua minoria, ele sabia quem eram, e só vivia para atuar para todos e para quando víssem-no no palco, terem uma impressão de como ele fosse.
Mais um diálogo interno se seguiu após a reflexão, duas mentes distintas no mesmo corpo: sua vida e seus pecados.

Vida: - “Primeira e última vez que me ouvirá: Vai viver! Danem-se seus fantasmas, suas ilusões ou suas peças! VIVA!”
O rapaz ouvia, mas seus pecados continuavam a manchar o palco e as vestes com suas desculpas inertes de inexperiência e inaptidão para a coisa.
E a vida, impaciente e cansada de ter sido deixada de lado por todos aqueles anos, tomou a frente e nunca mais os crescentes sentimentos felizes naquele corpo e naquela alma ouviram falar daqueles pecados que os prenderam por noites a fio.

E o rapaz, quando deu por si, estava de pé, debaixo da marquise, com sua mão esquerda a apoiar o resto de seu corpo na pilastra mais próxima. Talvez tenha acordado pela sensação áspera que a pilastra trabalhada lhe dava à mão, ou por ter sentido a brisa leve pós-almoço-em-restaurante-executivo no clichê de seus cabelos, provocando-lhe pela primeira vez na vida, o orgulho e o prazer de ser quem era.

2 comentários:

Sr. Acaso disse...

FODA Victor, FODA, na moral!

Filipe F. Bonita disse...

Bem foda seus texots!