Havia perdido a vontade de escrever.
Estava cansado de noites perfeitas.
Talvez não fosse essa a arte de seu ser;
Aquela maldita raiva o consumira.
Eu queria fazer algo, mas não podia.
A única coisa que pude fazer foi assisti-lo morrer,
Enquanto punha meu capuz negro.
As preces há muito não eram atendidas.
As frases se encerravam sozinhas.
Estava morto, e dessa vez,
Nem ela poderia revivê-lo.
Ao ver a Morte chegar, achou graça.
Sempre a desafiara, e caído no chão,
Era ela quem ria:
- “Últimas palavras, amigo?”
- “Deveria ter vivido mais...”
- “Engraçado, é o que todos dizem...”
- “Droga, então serei apenas mais um na morte.”
- “Não. Cada morte é uma morte diferente, assim como cada vida.”
- “Dialogando com a Morte, onde fui parar?!”
- “No fim, amigo. No fim.”
Durante a caminhada, com dificuldade o fiz aceitar-me.
- “E para onde vamos?” Perguntou com fingido ânimo.
- “Para o fim, já lhe disse.” Repeti com a voz fatigada do resto do dia.
- “E quando chegarmos? O que faremos?” Indagou com um leve tom de receio.
- “Nada. Já lhe disse: é o fim.” A impaciência em minha voz mostrou-se sem medo.
- “Não pode acabar assim. Uma caminhada tão longa e só!” E a esperança ainda não o havia deixado.
- “Pois diria que é um desfecho perfeito.” Disse, com certo sarcasmo.
- “Uma caminhada final? Mas é banal! Por que não voarmos ou morrermos de vez, então?”
- “Não é assim que funciona.”
- “E por que não?” Levantou a voz, se achando o dono da situação.
- “Não sei. Não sou Eu quem faz as regras. Há coisas que precisa entender antes de morrer.”
- “É? E que tipo de coisas?” Fez sua última pergunta.
Com leve tom de triunfo na voz, lhe disse:
- “Que a tal caminhada final é conhecida como Vida.”
E a foice ao meu lado riu como no ensaio.